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ESTILO: It girl ou periguete?


Por Júnior Bueno


O Brasil é um país tropical onde a exuberância e a sensualidade se resvala na sua cultura popular. O Brasil é também o país de contrastes, onde uma minoria mais favorecida pode viajar, consumir, e por consequência, ostentar e ditar um padrão de “bom gosto” pra maioria. E desses contrastes surgiram dois arquétipos femininos de estilo que atualmente estão nas rodas de fofoca, nos editoriais de moda e nas discussões do mundo fashion: a classuda it gilr e a popular periguete.


Clara Bow, a primeira it girl

O termo it girl surgiu nos Estados Unidos na década de 20 e se refere às mulheres, geralmente jovens que, mesmo não intencionalmente, criam tendências, despertam o interesse das pessoas em relação ao seu modo de vestir, de andar, ou ser. O termo foi usado pela primeira vez num conto de Rudyard Kipling: “Não é beleza, por assim dizer, nem uma boa conversa, necessariamente. É só 'it'." A expressão se popularizou com o filme It, estrelado por Clara Bowl em1927. No mundo da moda, a expressão voltou a ser usada, desta vez com o significado de “garota comum com grande fashion sense” nos anos 2000, pelos sites e revistas especializados. As principais figuras a exemplificarem o termo, geralmente são modelos, atrizes, socialites como Olívia Palermo, Alexa Chung, Chloë Sevigny, Rachel Zoe, Ema Watson e Kate Moss. No Brasil, o termo ganhou um ressignificado: são moças ricas que assimilam facilmente as tendências do jet set (grande circuito) e escrevem sobre moda em suas páginas na internet. O curioso é que ao contrário do que acontece no cenário internacional, onde as it girls são assim chamadas pelo reconhecimento da mídia, no Brasil, as “blogueiras de moda” são as primeiras a requisitar para si esse status, seja nos tutoriais “ensinando” seu público como se vestir, o que comprar, que produtos usar, seja na forma que exibem diariamente o seu “look do dia”, um retrato da roupa escolhida, listando as grifes usadas para compor o visual. Blogueiras como Heleninha Bordon, Lalá Rudge ou Júlia Petit assumiram status de autoridade no mundo da moda.



Olivia Palermo e Rachel Zoe: duas das it girls mais famosas do mundo

Há uma tendência em transformar o estilo pessoal em negócio e várias dessas blogueiras são patrocinadas por algumas marcas. Ou seja, a it girl brasileira recebe dinheiro ou roupas pra elogiar e indicar determinada marca. Por ser uma prática recente, o CONAR ainda não sabe como lidar com esse tipo de publicidade, embora o Conselho de Ética de Propaganda não veja as parcerias com bons olhos. As it girls brasileiras atuam como gurus da moda e exercem em seu público uma fascínio. Essa ligação do público (maciçamente feminino), com as jovens mentoras da moda, ou algo que o valha, é de total fascínio e desejo de “se tornar” o ídolo. Como se a percepção de como combinar roupas e a conta bancária milionária das blogueiras fossem algo facilmente adquirível.
Mas nem só de um gosto requintado e um guarda-roupa recheado de grifes faz um arquétipo feminino da sociedade de consumo. Outro fenômeno midiático que é modelo de comportamento e estilo é a periguete, que pode ser descrito como uma mulher conhecida por estar sempre na balada, geralmente solteira, que escolhe com quem e quando quer ficar, autossuficiente e que não se importa com a opinião alheia. A princípio pejorativo, a palavra serviria como (mais um) julgamento moral para a mulher sexualmente assertiva. Assim como os termos biscate ou vadia, não há um correspondente masculino para periguete. Mas a partir da assimilação do termo pela mídia (a cantora Ivete Sangalo, por exemplo se denomina uma periguete assumida) fez com que a carga machista mais evidente se diluísse. O estilo da periguete é também de ostentação, mas dessa vez não de marcas e grifes, mas das formas do corpo e várias celebridades como Valesca Popozuda e Mulher Melão são consideradas símbolos desse estilo mais livre de se vestir. Em novelas, personagem como a Suellen (Isis Valverde) de Avenida Brasil, ganharam aprovação popular apesar de seu comportamento “moderninho”.


Suellen, o furacão de Avenida Brasil

Um fator importante a ser ressaltado é que o estilo periguete é mais popular, ou seja, mais difundido nas classes mais pobres da população. Desse modo, as roupas usadas pelas cantoras, atrizes e celebridades são copiadas e vendidas em mercados populares e feiras, movimentando o comércio informal da moda. Enquanto a it girl faz girar o mercado da alta costura e dos acessórios de grife, a periguete ajuda a manter o comércio popular. Entre a ambas existem grandes diferenças no estilo de se vestir. E o que determina essas diferenças é o reconhecimento de ambas sobre o seu corpo. As it girls ensinam suas seguidoras a se vestirem de acordo com seu tipo físico e a evidenciar os pontos que valorizem e favoreçam o corpo. Por valorizar e favorecer entenda-se parecer mais alta e mais magra. Entre as periguetes, essa preocupação não existe e a moda é um tanto democrática, todos os padrões de corpo podem usar a indumentária típica: minissaias, calças jeans justas e blusas decotadas. Em muitos blogs de moda se pode ler posts orientando as leitoras a não se vestirem “de maneira vulgar”. Já o dress code da peiriguete ordena mostrar a maior quantidade de corpo possível, seja em roupas curtas e decotadas, seja em roupas extremamente justas, seja em ambas.


Como o Brasil também é um país de misturas, claro que a moda foi influenciada por esse estilo mais sensual. O estilista Alexandre Herchovitch criticou a moda produzida no Brasil: “O Brasil tem expertise de fazer roupa de periguete”. Já a celebridade instantânea Geyse Arruda respondeu com deboche, “quem faz a moda é o povão, e o povão quer periguetar”. A blogueira Isabela Lacerda, do blog Uzara, acha que é sim possível haver uma it girl periguete e aponta a apresentadora Sabrina Sato como um exemplo dessa mistura: “Ela usa e abusa do corpo que tem com roupas curtinhas, porém tem um diferencial, ela conseguiu domar a sensualidade com muito bom senso e bom gosto, com certeza ela já é uma it girl.”


Sabrina Sato, mezzo periguete, mezzo it girl/  foto: http://moda.culturamix.com

 O que essa discussão traz de fato, é que essa legitimação dos dois modelos de estilo e comportamento diz mais sobre o papel da mulher na sociedade de consumo que sobre o mercado da moda em si. Uma pesquisa do instituto Data Popular de 2012 aponta que o público feminino é, sem dúvida, a fatia mais importante do mercado de consumo. 80% a 90% das mulheres lideram nas decisões de compra, nas áreas de beleza, alimentação, orçamento doméstico e criação dos filhos. Isso interfere na criação de novos produtos e serviços destinados às mulheres, na forma como a publicidade se dirige a elas e, sobretudo reflete culturalmente na abordagem feminina na sociedade de consumo. 55% das mulheres de classe média compram pelo menos uma peça de roupa por mês. Quem decide o que consumir, que imagem passar, que modelo seguir é a mulher, orientada por seu gosto próprio ou seguindo tendências. Mas isso não pode se voltar contra ela, é o que afirma a estilista Viviane Whiteman: “A mulher tem que ter o direito de usar o que quiser e se sentir bonita sem ser rotulada por isso”.


E você, que estilo escolhe?


Júnior Bueno.


*Matéria publicada originalmente no Jornal O Hoje de Goiânia.

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