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Para além da questão homossexual, como as novelas têm abordado a diversidade sexual e os diversos rótulos que busca classificá-la?


                                    Por Rafael Barbosa 


A homossexualidade foi vastamente abordada pela teledramaturgia no ano de 2014, ano este em que logo no seu início apresentou o primeiro beijo gay de uma novela da Globo, beijo entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), personagens que fizeram sucesso em Amor à Vida, aliás, que roubaram a cena. Outros beijos vieram na novela que se seguiu, “Em Família”, entre Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Muller). É evidente o quão importante é essa abordagem no que diz respeito a abrir os olhos das pessoas para enxergarem com naturalidade essas outras formas de relacionamento, mais do que isso, a respeitarem e aprender a conviver com elas. No entanto, muito mais importante do que representar os gays em novelas é a maneira com que os autores vêm tratando dos rótulos que a sociedade utiliza para classificar as pessoas quando o assunto é sexualidade. 


Essa questão dos rótulos me chamou atenção quando Xana Summer, personagem popular da atual Império vivida magistralmente por Ailton graça, surpreendeu ao negar ser homossexual como todos pensavam e deixou no ar um possível interesse por Naná (Viviane Araújo), sua até então melhor amiga, mas que sempre dormiu com ele. “Xana não se enquadra em rótulos, Xana é Xana e pronto” disse Juju Popular (Cris Vianna) na cena em questão, em que se conclui que Xana é apenas um homem que se veste de mulher, o chamado Crossdresser. Leonardo (Klebber Toledo), outro personagem de Império até então homossexual, após romper seu relacionamento secreto com Cláudio, vai para cama Com Amanda (Adriana Birolli). 

Interessante foi ver a repercussão em torno disso, Aguinaldo Silva foi criticado e acusado de promover a “cura gay” em novela, principalmente por homossexuais que tanto buscam o respeito à diversidade sexual. Vejam só como a maioria das pessoas, sejam elas ricas ou pobres, brancas ou negras, hétero ou homo (olhas os rótulos aí!), sentem a necessidade de se enquadrar e enquadrar os outros nos chamados rótulos.


São muitos os estudos e pesquisas que revelam que a sexualidade humana é plural, ou seja, não se limita somente a hétero, homo ou bissexual, mas que abrange infinitas outras possibilidades. Estudos esses que não são nenhum pouco recentes, já que lá nos anos 50 o biólogo americano Alfred Kinsey , pioneiro em estudos da sexualidade humana, já revelou um leque de possibilidades ao elaborar a famosa escala Kinsey."A parte majoritária da população é heterossexual, embora mesmo esses possam ter experiências que fogem a essa norma. Admitir uma experiência sexual com alguém do mesmo sexo não torna uma pessoa homossexual ou de outro gênero” disse o médico Amílton dos Santos Júnior, pesquisador do departamento de psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ¹. 

Diante disso, está claro que cada indivíduo é um ser único que sente e deseja de forma diferente do outro e de formas distintas ao longo da vida, por isso estabelecer padrões, é um risco a liberdade afetiva e sexual das pessoas, limita os relacionamentos. É evidente que isso não deve necessariamente representar uma ameaça aos homens e mulheres heterossexuais, mas sim uma nova maneira de encarar as diferenças dentro deste contexto da sexualidade humana. É por tudo isso acima, que penso que bem mais importante do que tratar da homossexualidade nas novelas, seja tratar da multiplicidade sexual, criticando não só a homofobia, mas todo tipo de preconceito e repressão a sexualidade alheia, que vale lembrar, não se restringe somente a sexo, mas a afetividade, ao gostar e estar amando alguém. 

Analisando as novelas dos últimos anos que pretenderam tratar da homossexualidade, percebo que algumas foram bem mais além do que a causa homossexual, buscando quebrar os rótulos e estimulando o respeito a toda e qualquer manifestação afetiva e sexual. 


Aguinaldo Silva tem sido bastante eficiente em Império nesse sentido, o autor não levanta bandeiras e tampouco limita sua história a tratar dos dilemas de homossexuais, mas fala de respeito e preservação da intimidade e ilustra um pouco dessas múltiplas sexualidades. Xana e Naná, um improvável casal tornou-se um divertido par romântico que particularmente tem minha torcida, ao mesmo tempo em que a relação de Cláudio(José Mayer) com sua mulher Beatriz (Suzy Rêgo) se mostra baseada em um amor verdadeiro e admirável, mesmo ele nutrindo desejos por outros homens.

A amizade colorida de Leonardo e Amanda também ilustra essa quebra de rótulos, eles se gostam, se curtem e vão para cama, mesmo ele tendo amado e mantido durante tanto tempo uma relação com Cláudio. 


Na novela “Em Família” Manoel Carlos, não sei se de forma consciente, também retratou essa questão ao colocar uma mulher casada e com uma vida estável para se relacionar com outra mulher, algo completamente novo para ela já que antes de viver uma paixão arrebatadora com Marina, Clara não havia tido relações e sequer cogitado se relacionar com outra mulher, e durante um bom tempo ficou dividida entre a paixão por Marina e o amor pelo marido, o simpático Cadú (Reinaldo Gianecchini). 


De todas as novelas recentes, na minha opinião, a que mais foi clara e direta ao criticar os rótulos foi Sangue Bom, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari: Perto do fim da novela, Xande (Felipe Lima) um personagem que se mostrou hétero quase que em toda a história, tendo até um par romântico, descobre que está apaixonado pelo seu melhor amigo Filipinho (Josafá Filho), este sim, gay já assumido, com quem construiu uma bonita relação durante a trama. A irmã de Xandy também aparece no fim da novela com uma namorada e é ela que o incentiva a correr atrás de Felipinho. O diálogo nesta cena sintetiza tudo aquilo que pretendi passar com este post “Esse lance de ser gay, hétero, isso é tudo besteira, o importante é amar, viver sem medo. Luta pelo que você quer...”  disse Tábata (Samya Pascotto). Clique aqui para assistir a cena de menos de dois minutos, a qual vale muito á pena rever se você leu até aqui e gostou do texto.


Talvez essa necessidade que temos de enquadrar as pessoas em diferentes categorias devesse ser o foco de novelistas e escritores que tenham a pretensão de combater tanto preconceito, seja ele social, racial, sexual, religioso e etc. É Claro que as novelas não irão acabar definitivamente com a mania da sociedade tem de rotular, porque isso acaba se mostrando um mal necessário, mas tudo o que puder ser feito contra o que os rótulos possuem de negativo e agressivo para a liberdade individual, deve ser feito.

Levando em conta que o romantismo é um dos ingredientes essenciais a qualquer boa novela, termino o texto dizendo que espero que no futuro não tenhamos que ver casais gays e casais héteros disputando espaço em uma novela, mas que tenhamos simplesmente casais vivendo grandes histórias de amor, afinal, o amor não tem sexo e como disse o cantor Lulu Santos naquela música,  é justa toda forma de amor.


¹ - Coluna sobre Ciência da veja: Os rótulos sexuais estão chegando ao fim? 

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