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Espelho da Vida e a capacidade de tocar o público

Por Rafael Barbosa


Espelho da vida se encerra nesta segunda-feira (01/04) após pouco mais de cinco meses no ar. Muito criticada no início e com uma audiência abaixo do esperado, a história, que trata de vidas passadas, almas gêmeas e viagem no tempo, termina aclamada por uma parcela do público que optou por embarcar nela. 

Aliado à grandes interpretações do elenco e a uma direção e produção competentes, o texto de Elisabeth Jhin se mostrou capaz de tocar o coração das pessoas e talvez esse seja o seu maior feito. 
Quando Espelho da vida estreou em setembro, confesso que dei de ombros. Desisti logo após os primeiros cinco capítulos. Fiz isso para mais tarde me arrepender. 

Nunca fui um entusiasta da obra de Jhin, na qual a temática da espiritualidade é recorrente, não por achar que não seja bom o que ela escreve, mas por uma questão de gosto e identificação mesmo. Até então, Escrito na estrelas, exibida em 2010, foi a única que vi com maior atenção, mas sem me sentir totalmente fisgado. No entanto, me surpreendi quando há um mês do término, vendo a repercussão da novela nas redes e lendo os constantes comentários de que esta havia melhorado muito em relação ao seu início, fui tomado por uma insistente vontade de voltar a ver.  Eis que me pego maratonando cinco meses de novela em um. 

A autora Elizabeth Jhin na festa de lançamento da novela.

É claro que nessa maratona me concentrei nas sequências mais importantes, mas ainda assim, foi possível me sentir envolvido pela história, pelas personagens e pelas interpretações sensíveis, fortes e viscerais do elenco extremamente afinado com o texto, acreditando na história que estava contando, transmitindo verdade em cada cena, sempre muito bem conduzida pela direção artística de Pedro Vasconcellos. Me vi encantado pela forma com a qual Jhin construiu sua história e me senti inclinado a rever meus conceitos e talvez até, pré-conceitos, em relação ao seu estilo de fazer teledramaturgia. 
Espelho da vida sofreu muitas críticas nos seus primeiros meses, acompanhei algumas delas e sinto que em grande parte foram justas. A maior falha apontada foi a lentidão no desenvolvimento do enredo, algo superado, quando enfim, a história ganhou fôlego, apresentando grandes cenas. Há ainda outras cobranças em relação à falta de lógica, falhas de estrutura, equívocos do roteiro etc. Não posso discordar e nem afirmar que essa argumentação não tenha fundamentos. 

Mesmo me deixando levar pela história, eu, que pouco conheço acerca da doutrina espírita, me vi com muitas dúvidas e questionamentos em relação ao contexto construído em torno da saga de Cris Valença em outra dimensão. Muitos elementos pareceram não fazer sentido algum, tendo sempre a questão espiritual como regra máxima nesse jogo estabelecido com o telespectador. Mas talvez esse tenha sido o principal objetivo, não?



Nesses momentos de dúvidas em relação ao enredo, me identifiquei com Alain, personagem do João Vicente de Castro. Ele nunca acreditou em nada daquilo de reencarnação e portal para o passado. Nada fazia sentido para ele, que passou toda a novela buscando uma explicação lógica. Mas há certas coisas que simplesmente não podem ser explicadas racionalmette, é preciso ter a mente e o coração abertos. Essa foi a mensagem da novela e a principal lição de Alain, meu personagem favorito por ter uma construção muito bonita e coerente. Acredito que talvez isso sirva para justificar qualquer erro de lógica. 

Espelho da vida é definitivamente uma fantasia, que lançou mão, não apenas das possibilidades que tramas espiritas trazem, mas do realismo mágico, que de alguma forma, dentro daquele universo, funcionou para a trama, além de todos os ingredientes e o melodrama necessários para se chegar ao público. E essa parece ter sido a grande busca da novela, tocar corações. 


Logo após assistir ao penúltimo capítulo no sábado (30/03), vi no YouTube uma entrevista da grande Fernanda Montenegro ao programa “Espelho” apresentado por Lázaro Ramos no Canal Brasil. A entrevista é de um tempo atrás. Quando lhe foi perguntada “para que serve a arte?”, Fernandona respondeu simplesmente, “para confortar pessoas”. Ainda entorpecido pelas emoções do capítulo que havia assistido, imediatamente entendi que muitas vezes, mais importante que o rigor na qualidade técnica da construção de uma obra como uma novela, que fala para milhares de pessoas, é chegar no coração de toda essa gente, é comover, despertar paixões, gerar empatia, divertir, trazer conforto e esperança. 

Espelho da vida cumpre isso quando fala de amor, quando fala de espiritualidade, de evolução humana, de resgate e isso tem muito valor em tempos como esses que estamos vivendo. Soma-se a isso o fato de ter proposto contar uma história em que se brincou com os ingredientes clássicos, propondo algo diferente, mas sem trair as bases do gênero telenovela. Afinal, quando foi que a mocinha se encontrou pela primeira vez com o mocinho apenas no penúltimo capítulo? Não me lembro disso em outra novela!

Os protagonistas junto da equipe de direção, à esquerda Pedro Vascocellos - diretor artístico.

Portanto, Espelho da Vida deixa um legado bonito e com certeza ficará marcada no coração dos fãs e de todos que estiveram por trás de sua produção, independente dos erros, falhas e equívocos que foram cometidos. As críticas são importantes, mas muitas vezes, a experiência subjetiva do telespectador não é levada em conta. As pessoas se relacionam de formas diferentes com determinada obra e os sentidos desta envolvem não apenas os objetivos de quem faz, mas os anseios e desejos de quem consome aquilo. 

Para terminar, além de enaltecer o trabalho de Jhin, que vem se arriscando a cada trabalho e se mostrando muito competente no que faz, consolidando sua assinatura, cabe também parabenizar, mais uma vez, toda a equipe da novela. Sobretudo os atores e atrizes que deram vida à todos esses personagens. De modo geral, Espelho da Vida fez bonito e em minha opinião, seu saldo é muito positivo. 

Capa da trilha sonora Volume 1

Ps: Estou apaixonado pela Vitória Strada, mas acho que o Brasil todo está, certo?!
Ps: Felipe Camargo merece ser aplaudido de pé. Arrisco dizer que sua interpretação como Eugênio e Américo é a melhor dos últimos tempos. 
Ps: Isabel é o melhor papel da Aline Moraes em sei lá quanto tempo. Absolutamente maravilhosa como vilã. 
Ps: João Vicente de Castro, é outro que dominou com competência um personagem dificílimo como o Alain e de quebra, entregou um bom vilão como Gustavo Bruno. 
Ps: Palmas para Irene Ravache, Emiliano Queiroz, Júlia Lemmertz, Reginaldo Faria, Patrycia Travassos, Rafael Cardoso, Ana Lúcia Torre, Clara Galinari, Luciana Paes, Vera Fischer e tantos outros. 
Ps: Não consigo parar de cantar “always always” do Gavin James. Música linda!
Ps: Agora mais do que nunca, quero muito ver Além do Tempo, que dei de ombros também, mas que sempre tive curiosidade de conferir. 

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