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Verão 90: Parte do público curtiu a novela pelas mesmas razões que fizeram a crítica desprezá-la

Por Rafael Barbosa


Verão 90, novela que chegou ao fim nesta sexta (26/07), tomou bordoadas da crítica especializada durante todo o tempo em que esteve no ar. Por outro lado, conquistou um público cativo que garantiu satisfatórios índices de audiência. Nas redes sociais, que é um bom termômetro para medir a repercussão de uma obra, as pessoas se dividiram: houve quem detonasse, mas teve também quem defendesse. Autoras, elenco e emissora tratam a história dos “ex-patotinhas” como sucesso. 
Obviamente, essa não é a primeira vez que audiência e crítica não caminham de mãos dadas, aliás, isso vem se tornando cada vez mais comum, mas “Verão 90” se revelou um caso curioso. As mesmas características que irritaram os especialistas, foram as que fizeram grande parte do público adorar a novela. 

Izabel de Oliveira e Paula Amaral, bem como o diretor artístico, Jorge Fernando, propuseram uma escrachada comédia, impossível de ser levada a sério e que apostou alto no ridículo. Durante todo o tempo em que a novela esteve no ar, eles pareceram querer dizer ao público “olha, é isso que temos para oferecer, ou vocês embarcam e se divertem ou não vai ter outro jeito”, o que acabou funcionando, já que muita gente embarcou nessa maluca viagem de volta aos anos 90. 
Entretenimento puro e simples

Detratores e defensores concordam que “Verão 90” foi uma trama despretensiosa, ingênua, farsesca e feita exclusivamente para entreter. Mas, se por um lado o exagero, a cafonice e a caricatura, que deram o tom desde o primeiro capítulo, desagradou críticos, a atmosfera um tanto anárquica, que brincou o tempo todo, seja com as convenções do gênero ou com a explosão de referências à fatos e modismos dos anos 90, divertiu muitos. 


Indo contra a maioria de seus colegas, o colunista do UOL, Chico Barney, em seu último texto sobre a novela, apresentou uma percepção que destaca exatamente essas características de forma positiva e indo mais além, afirma que “Verão 90” foi o respiro que público precisava no final do dia. 
Mas, para além do descompromisso, dinamismo e da leveza, penso que o que garantiu um público fiel à novela foi o carisma dos personagens, o que só foi possível porque o elenco vestiu a camisa e embarcou nessa viagem maluca com muita disponibilidade.

As interpretações foram adequadas ao que a novela propôs e a dupla de autoras conseguiu fazer com que o público se importasse o bastante com os diversos tipos da história, para seguir acompanhando as situações tragicômicas apresentadas na maior parte do tempo.

Qualidade X audiência
Há um consenso de que audiência não significa qualidade, mas por que determinadas novelas, classificadas como ruins por profissionais que entendem do assunto fazem tanto sucesso?
Segundo Aguinaldo Silva, em entrevista para o Cabide, concedida na época do lançamento de “Império” (2014), a responsabilidade maior do autor de novelas é para com a emissora, que financia a obra, e para com os telespectadores, que na visão do autor, são os únicos capacitados para decidir se uma obra cumpriu ou não o objetivo. 

“O problema é que a novela atinge um público de 40 milhões de pessoas, e por isso tem que ser obrigatoriamente "média", ou "mediana", e também criativa pra caramba”, disse Aguinaldo, que afirma ainda que os críticos apresentam, muitas vezes, uma percepção fora da realidade por acreditar que “a novela deve desdenhar do gosto popular”. 

Essa é sem dúvida uma discussão que não se esgota facilmente e que para ser melhor compreendida, fazem-se necessários estudos mais aprofundados. Porém, penso que a crítica televisiva, que é de extrema importância, deveria abranger de uma maneira melhor nas análises que faz, as subjetividades manifestadas pelo público.


O que determina o que é bom ou ruim?
É intrigante para quem conhece o mínimo sobre a história das telenovelas brasileiras, pensar que Janete Clair, hoje reverenciada como uma das maiores novelistas que o Brasil já teve, tenha sido duramente criticada durante o exercício de sua profissão no passado, acusada de ser fantasiosa demais. 
Os conceitos de bom e ruim envolvem muitas variáveis. É difícil estabelecer um parâmetro do que vem a ser uma coisa e outra, ignorando que as pessoas consomem histórias de maneiras diferentes e que estabelecem conexões diversas com essas histórias. O ponto de vista técnico é importante, mas é preciso investigar também o que mobiliza os telespectadores.

Talvez essa discussão nunca chegue a resultado nenhum, mas são provocações interessantes de serem feitas diante de casos como o de “Verão 90”. Gosto de pensar que histórias proporcionam, antes de tudo, experiências emocionais, portanto, precisam ir de encontro aos anseios do público, no caso da telenovela, do grande público.

A história de Izabel de Oliveira e Paula Amaral cumpre isso. Talvez o momento atual tenha sido o mais propício para que esse tipo de comédia desvairada se sair bem. O fato é que, mesmo toda errada, “Verão 90” garantiu um bom engajamento, tanto que deixará alguns fãs saudosos. Do mais, valeu por rir um pouco, por revisitar a trilha sonora dos anos noventa, bem como muitos outros elementos da época, e também pelos personagens cativantes. 


Ps: Cláudia Raia e Isabelle Drummond, respectivamente como Lidi Pantera e Manuzita, representam bem a novela e juntas, estiveram maravilhosas em cena. Totia Meireles compôs uma vilã que coube perfeitamente ao universo da história, Mercedes não poderia ter sido outra. Dira Paes, como sempre, com muita força em cena. Rafa Vitti fez com muita competência o seu mocinho virtuoso e assertivo, todo mundo gostaria de ter um João na vida. Jesuíta Barbosa, Camila Queiroz e Gabriel Godoy funcionaram muito bem como o trio de pilantras atrapalhados. Destacaram-se também Dandara Mariana, Ícaro Silva, Klebber Toledo, Marina Mochen, Bernardo Marinho, Cláudia Ohana, Miguel Rômulo e Sérgio Malheiros.

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