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Deixem a coxinha em paz!




Por Júnior Bueno


Vem cá, sua linda!
Futebol, samba, novela e carnaval: todas as grandes paixões brasileiras ganharam o mundo. Hoje é possível ouvir Noel Rosa num elevador em Tókio; ver o Neymar cair em gramados europeus; ver a Lucélia Santos ser chicoteada num tronco em vários idiomas e ver mulatas sendo apalpadas em desfiles tipo exportação em quase todos os países. Assim construímos nossa imagem pro mundo e atraímos turistas aos milhares interessados no clima, no ritmo e “em las chicas muy calientes” do lado de baixo do Equador. Isso desde 1500 quando trocamos nossas riquezas por espelhinhos e bugigangas. Agora o último dos nossos tesouros tomou a nau rumo ao resto do mundo: a coxinha.

Recentemente a apresentadora de culinária inglesa Nigella (aquela gordota sexy especializada em porn food) veio ao Brasil lançar um livro e se encantou pela fritura onipresente nos melhores botequins. Aprendeu a receita, tirou foto se entregando a uma coxinha como se não houvesse amanhã e postou no Instagram. Aqui uma digressão: recuso-me a entender essa mania moderna de tirar foto da comida pra mostrar nas redes sociais, mas vai saber, vai ver que esse também era o objetivo dos homens das cavernas ao desenhar javalis nas paredes. As pinturas rupestres foram nosso primeiro Instagram. Voltando à vaca fria, digo coxinha de frango, bastou que a moça mostrasse ao mundo nosso maior quitute e ele ganhou status de iguaria da moda. Assim como fizeram antes com a tapioca, o bacon, a Nutella e até mesmo o chá verde.

Sabe nem segurar uma coxinha, minha senhora!
Não que eu seja contra reconhecerem o valor da coxinha como alimento, uma vez que eu mesmo sou um grande apreciador desta simpática refeição. Sim, pra mim uma boa coxinha e um guaraná mineiro podem muito bem fazer as vezes de almoço, jantar e até café da manhã. O que me incomoda é que a nossa coxinha velha de guerra, que nunca nos faltou seja numa rodoviária qualquer de uma cidade desconhecida, seja na padaria mais próxima, na pausa do trabalho, seja agora apreciada pelos mesmos modernetes magrelos que viravam a cara pra ela até esses dias.

E o pior dos pesadelos, coxinha virou gíria pra designar sujeitos empoados, metidos. Sabe aquele tipo que a gente chamava de playboy e antes disso de mauricinho? Pois é, agora chamam esse sujeito de coxinha. Uma injustiça, um ultraje, a coxinha não merecia isso. O próximo passo certamente será criarem a coxinha gourmet, de sabores exóticos, sem gordura, light, doce, coxinha de bacon com Nutella. Vendidas não em botecos, mas em estabelecimentos sem alma, certamente chamados de “coxinharias”. Eu que sou purista a ponto de achar o catupiry na coxinha um verdadeiro atentado aos bons costumes é que não quero viver pra presenciar isso.

Por isso é que faço aqui o meu apelo contra o hype da coxinha. Pelo fim das fotos indecorosas da nossa delícia nas redes sociais. Não podemos deixar que nosso maior símbolo gastronômico (feijoada? Faz-me rir) seja retirado de nós e perca sua essência. Pela volta da coxinha arte, a coxinha moleque, a coxinha de várzea. A minha parte eu estou fazendo, frequentando os piores botecos e pedindo sempre aquela coxinha oleosa, de frango (e umas batatas no meio, que nenhum dono de botequim é santo) com bastante molho de pimenta e um guaraná mineiro pra rebater. E sem tirar foto, porque coxinha foi feita pra comer, oras!

Amor verdadeiro, amor eterno.

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