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Paraíso Tropical no Viva: Beth Goulart e Daniel Dantas deram show em ótima trama paralela

Por Rafael Barbosa



Quando eu era mais novo, encarava a reprise de uma novela como uma oportunidade de matar as saudades de histórias e personagens marcantes. 

Hoje eu penso diferente, afinal são grandes as chances de sermos traídos pela nossa memória afetiva. A saudade, sozinha, já não é um motivo suficiente para encarar uma empreitada de cento e tantos capítulos de algo já visto. Sendo assim, considero que a graça da reprise está em rever uma novela como se fosse da primeira vez. 

É diferente de repetir um livro ou assistir inúmeras vezes o mesmo filme, porque novela exige muita disposição, dura meses, é hábito, os personagens convivem conosco diariamente e ela sempre coincide com algum momento específico da nossa vida, o que interfere no modo como nos relacionamos com a história em questão. 

Neste caso, diante de uma reprise, o tempo que se passou entre uma exibição e outra é um fator importante. O nosso olhar acaba sendo sempre outro. Temos então, a possibilidade de redescobrir uma história já vista antes. 

Foi com essa ideia que eu comecei a rever Paraíso Tropical, atual reprise do canal Viva.

Um bom lugar para encontrar, Copacabana...

De autoria do já tão saudoso Gilberto Braga e de Ricardo Linhares, com direção de Denis Carvalho, a trama termina na próxima semana. Lembro que foi uma novela que eu gostei muito de ter visto em 2007, mas que não me marcou tanto como outros grandes sucessos dos anos 2000. 

Mulheres Apaixonadas, por exemplo, recém reprisada no canal, era uma das minhas favoritas da vida. A reprise, no entanto, me fez ter uma série de percepções diferentes acerca das muitas tramas e personagens e, de um modo geral, a novela me fez perder um pouco do encanto que eu tinha por ela.

Com Paraíso Tropical aconteceu o oposto. Eu lembro que só comecei a curtir a história lá pelo meio, no auge do antagonismo entre as gêmeas Paula e Taís. 

Revendo agora, constato que se trata de um novelão da melhor qualidade, que traz a excelência do texto gilbertiano. Uma trama simples e despretensiosa, tecida com cuidado e sem atropelos, que não abre mão da profundidade dos diálogos e da condução dos conflitos. 

Resultado: estou amando ver de novo. Confesso que Paraíso Tropical subiu na minha escala de preferências. 

Mas entre as coisas que mais me chamaram a atenção nessa redescoberta, estão as grandes interpretações de dois artistas coadjuvantes: Beth Goulart e Daniel Dantas. 

Neli e Heitor: drama familiar em trama paralela forte

Sim, é claro que eu amei reencontrar Camila Pitanga com a sua deslumbrante Bebel, bem como o casal de química explosiva que ela formou com o vilão Olavo de Wagner Moura. Bom também saborear uma história que traz a magia das gêmeas e atestar o talento de Alessandra Negrini, que suou a camisa para viver mocinha e vilã ao mesmo tempo, se destacando mais como a picareta Taís, o verdadeiro motor da trama. 

Mas nada me sensibilizou mais do que o núcleo familiar capitaneado por Daniel e Beth, que dão vida ao casal Heitor e Neli Schneider. Uma trama paralela que lá em 2007, quando eu ainda era um adolescente de 15 anos, pouco me chamou atenção, tanto que eu mal me lembrava, mas que agora, que eu vivo as dores e delícias da vida adulta, com quase 30 anos nas costas, me pega de um jeito muito diferente. 

Na fase inicial, em que a trama central demora a engrenar, é esta história paralela a que mais chama a atenção. 

A trama: casal descompassado

Neli é uma personagem típica da obra de Gilberto Braga, a alpinista social que não se conforma com a vida que tem e que almeja status, glamour e dinheiro. Sonha com um apartamento no Leblon com vista para o mar, como se a razão de sua existência dependesse disto. A mulher fútil, alienada e egoísta. 

Heitor, um cara boa praça e de fala mansa, é o marido que cedeu a vida inteira em nome dos caprichos da esposa e da necessidade de sustentar e oferecer o melhor para suas duas filhas, Joana (Fernanda Machado) e Camila (Patrícia Werneck). Percebe que perdeu os melhores anos de sua vida em um emprego que detesta e que nunca lhe deu o devido valor. 

Logo no início, Heitor é substituído na empresa em que trabalha por um cara mais jovem e recém formado. Apesar da substituição, ele é salvo de ser demitido, mas nem imagina que isso só acontece porque o seu agora novo chefe, o playboy Fred (Paulo Vilhena) está apaixonado por sua filha. O problema é que o rapaz não é correspondido. 

É aí que entra a deslumbrada Neli. Temendo que o marido perca o emprego e que eles fiquem sem conseguir pagar o tal apartamento do Leblon com o qual vem sonhando há anos, a carreirista decide empurrar a filha para o jovem executivo, acreditando que isso é o melhor para a garota e que assim está defendendo os interesses da família.  

O homem não realizado X A mulher deslumbrada 

Um homem sensível e frustrado vivendo ao lado de uma mulher incapaz de compreendê-lo e de reconhecer os seus esforços.

Os autores não facilitam as coisas, pois apesar de tamanho descompasso entre marido e mulher, fica evidente que existe muito amor entre eles. 

É muito mais fácil torcer e se conectar com Heitor, embora isso não seja lá muito confortável. O drama do personagem é muito comum na vida de milhões de brasileiros. Quantos de nós realmente podem escolher se aventurar em busca de seus sonhos? Quantos, em nome da necessidade, se submetem a empregos ruins, que não nos fazem felizes e que mal pagam as contas? O personagem nos obriga a olhar para as nossas próprias escolhas e encarar as nossas frustrações. 

Neli, por outro lado, é extremamente complexa e desperta sentimentos confusos no decorrer de toda a novela. 

A gente começa sentindo antipatia pela hostilidade com que ela trata o marido, fazendo questão de chamá-lo de fracassado, e também pela tentativa de fazer as filhas assimilarem seus valores distorcidos, como a de que mais vale um casamento rico do que o amor. 

Na medida em que a trama avança, passamos a sentir pena diante de situações humilhantes em que ela se coloca devido à sua mania de grandeza. Muitos momentos chegam a ser cômicos, como na ocasião em que ela compra vinhos caríssimos que não pode pagar, apenas para impressionar o candidato a genro em um jantar que ela oferece no seu "modesto" apartamento de copacabana. 

Em determinado ponto, a genialidade do roteiro e da interpretação de Beth são tão grandes, que a gente se pega concordando com o discurso que Neli defende. Todos desejamos conforto, ninguém quer uma vida de privações; todos amariam encontrar um bilhete premiado na loteria; e status e aparências são coisas que nos movem mais do que a gente gosta de admitir. 

No final das contas, Neli não é lá tão delirante assim e suas armações, apesar de questionáveis, perseguem uma lógica que está bem longe de ser de todo absurda. Sem falar que as circunstâncias não lhe deixam lá muitas alternativas, já que ela é chantageada por Fred: ou ela o ajuda a conquistar Camila ou Heitor será demitido. 

Sequências memoráveis

Algumas das melhores cenas de Paraíso Tropical são deste núcleo. As discussões de Heitor e Neli nos capítulos iniciais trazem diálogos excelentes, dramáticos, que revelam toda a complexidade daquele casamento em total fora de sintonia. Como já dito, é possível compreender os dois lados, mesmo Neli apresentando certa vilania. 

Um dos melhores capítulos é o do casamento de Camila e Fred, a grande virada dessa trama secundária. É quando Heitor finalmente descobre que a filha só está se casando para preservar o seu emprego. Ele então pede que ela não se case e finalmente põe um ponto final na sua relação de anos com Neli. Esta por sua vez tenta justificar o que fez. Há uma grande entrega de todos os atores envolvidos na sequência e dá para se compadecer da dor de todos. 

Mas nenhuma cena me comoveu mais do que aquela em que Heitor pede demissão para Daniel (Fábio Assunção). Um monólogo sensível e ao mesmo tempo dilacerante entregue por Daniel Dantas. É o grande momento do personagem, aquele em que ele finalmente se liberta, rompe com uma vida que o fazia infeliz e se sente pronto para recomeçar. 

A partir de então, passamos a ver as trajetórias de Neli e Heitor agora separados. Ele mais leve, se descobrindo como chefe de cozinha, já que cozinhar sempre foi o que mais lhe deu prazer na vida. E ela finalmente compreendendo que de nada valem as aparências se não tem o amor e o respeito do marido e das filhas. Ela enfim passa a dar valor ao homem que tinha ao seu lado. 

Agora já mais para o final, vimos outro grande momento, quando o passado de Neli vem à tona, o que nos ajuda a compreender mais a personagem e nos conectar definitivamente com ela. 

A revelação de que Joana, sua filha mais velha, é fruto de um rápido romance que ela teve com o cafetão Jader (Chico Diaz) e que, portanto, ela deu um golpe da barriga em Heitor, joga Neli definitivamente para o fundo do poço. A partir daí passamos a acompanhar a sua jornada de redenção e renascimento, cujo ápice se dá quando ela abre mão do apartamento com que tanto sonhou para salvar o restaurante do agora ex-marido, provando que ela aprendeu o que realmente importa. 

É definitivamente uma história muito bem desenvolvida. Mas o resultado poderia ser outro não fossem esses dois grandes intérpretes. 

Beth Goulart e Daniel Dantas: o prazer de ver grandes nomes em cena

O trabalho de Daniel Dantas e Beth Goulart é brilhante do início ao fim. Daniel é um ator que sempre me cativou com seus tipos sensíveis e com o seu jeito simples de interpretar, sem grandes firulas, mas sempre com muito afeto, com muita sutileza e muita verdade. Heitor é, entre os personagens que já o vi interpretar, o meu favorito. 

Beth, é uma atriz que conseguiu trilhar uma trajetória de muita entrega, dedicação e personalidade, independente da família de artistas da qual faz parte. É muito bonito vê-la emprestar toda a sua bagagem na construção de um tipo cheio de nuances. Eu sou apaixonado por sua Neli que se soma à minha lista de personagens femininas favoritas e é, sem dúvida, umas das interpretações que mais me comoveram. Taís e Bebel que me pedoem! 

Outra vantagem de uma reprise

Paralelamente à exibição de Paraíso Tropical, podemos ver Beth e Daniel em outros trabalhos. Ela na atual reprise de O clone na Globo, como a esfuziante e ciumenta perua Lidiane e ele como o vilão inescrupuloso Túlio da atual novela das nove, Um Lugar ao Sol, o que só comprova ainda mais mais a grandeza desses dois coadjuvantes que são garantia de performances excelentes. 

Daniel, consegue despertar compaixão como Heitor e uma profunda repulsa como Túlio e isso com uma interpretação limpa, econômica,  que vai nos detalhes, algo que só os grandes conseguem. A sua fala arrastada, tão comentada ultimamente, sempre foi a sua marca. 

E o final? 

Paraíso Tropical está chegando ao fim e estou ansioso para acompanhar as emoções finais dessa ótima trama de Neli e Heitor. Torcendo pela bonita reconciliação dos dois, agora mais maduros, com grandes chances acertarem o passo dessa vez. 

Louco para rever! 

E você que leu até aqui, assistiu a reprise? Também curtiu o casal Neli e Heitor ou redescobriu outros personagens? 

***


Autor: Rafael Barbosa

Do interior de São Paulo, Rafael é formado em Jornalismo pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) de Presidente Prudente. Atualmente vive no Paraná. Tem paixão pela teledramaturgia, sobretudo pelas novelas que cresceu assistindo. Se interessa por tudo que diz respeito à cultura. 

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1 Comentários

  1. Parabéns pelo texto Rafael. Eu adorei a sua análise focada em Neli e Heitor.
    Na exibição original de Paraíso Tropical, eu tinha 11 anos na época e o que mais ficou forte em minha memória foi Bebel e Olavo. A reprise no VIVA foi uma ótima oportunidade de acompanhar a obra de Gilberto Braga e Ricardo Linhares e ver detalhes interessantes que muitas vezes passam despercebidos na primeira vez ao assistir. Beth Goulart é uma atriz incrível que merecia ser mais valorizada.

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