O Post Vip de hoje é com Kiury Rodrigo, nome artístico de Rodrigo Dias.
Dramaturgo conhecedor da alma humana, diretor sagaz, ator inteligente, faz um Charles Chaplin como ninguém, além de tudo ainda é professor.
Como um admirador nato de Vanessa da Mata e Clara Nunes, neste post ele fala sobre sua ligação com as duas cantoras.
Coisa da Antiga
No início dos anos 2000, nos meus 20 anos de idade, fui hipnotizado por uma voz que cantava "Não me deixe só". A música estava pelas rádios, pelas ruas, pelas pistas de dança... Depois de um tempo, comecei a admirar a dona da voz e pude acompanhar o desabrochar da flor da sua arte. Conexões. Apenas acontecem.
Desde então, ela é a cantora brasileira de quem eu mais fui em shows. Coleciono histórias.
Van, gosto de chamá-la assim, nos faz voltar para a simplicidade da vida.
O observar os pássaros, as folhas de outono pelo chão, o cheiro de um bolo, o sorriso de uma criança desconhecida. Sua essência sabe como resgatar o essencial do ser humano.
Ser de luz
E Clara? Ela chegou antes nos meus ouvidos. Durante anos, esperei por um projeto que tivesse a Vanessa no papel dela. Notava um elo.
A tal conexão...
São únicas, mas com similaridades. Quando o musical saiu do papel, celebrei.
A intolerância religiosa, sim ela, faz muitos não acessarem a obra de Clara. O que é um desperdício, pois ela tem um dos maiores repertórios da música brasileira. Quem entra em contato recebe a surpresa de escutar sua voz em diferentes períodos e gêneros musicais da nossa história.
O samba está nela, mas outros ritmos também.
Clara foi vanguardista e teve a coragem de enfrentar a ignorância de parte da sociedade. Cantou temas que muitas cantoras não ousaram cantar. Foi como Carmen Miranda. Resgatar seu legado é colocá-la no lugar que ela pertence, que não é o de esquecimento.
O mar serenou
Existe um "tempo" determinado para muitas coisas. Não tem que forçar! Dessa maneira, "Clara Nunes: A Tal Guerreira", surge no seu próprio "tempo".
Tive o privilégio de ver o ensaio e o espetáculo. Em ambos os momentos saí sereno. A serenidade que sinto ao escutar Clara. A serenidade que sinto ao escutar ou sair dos shows da Vanessa.
Conexões...
Similaridades...
E como o tempo divino não é calculado, tudo vai se encontrando como tem que ser. Essa foi uma das sensações.
Cada peça do projeto tem sua importância e não foi escolhida. Ou seja, cada artista está porque tem que estar no palco desse musical. Não tem ninguém desconexo.
Obviamente, quando falamos de humanos, falamos de diferenças. Mas elas se completam em cena. Não somente dando vida para os papéis, mas agregando na diversidade da vida. Onírico.
Jorge, com sua identidade, não somente dirigiu, mas soube como traduzir a alma da Clara. Tinha que estar presente na criação do texto e figurinos também, para junto com André e Luiz, dar vida a essa atmosfera. Unicidade. Recebendo ainda o toque de Marco, teve a maestria de fazer um cenário único, que nos transporta para um outro plano.
Sentir o espetáculo do mezanino e da plateia me fez ter a chance de observar a direção musical da Fernanda, a direção coreográfica do Gabriel, a preparação vocal do Rafa e o design de luz do César, tudo isso por outros ângulos, notando o cuidado desses trabalhos somado ao cuidado do trabalho da direção.
Claro, faltarão nomes aqui, mas esses representam parte do respeito. Respeito que senti (logo) na primeira entrada de Vanessa. No pedir licença.
Respeito que senti na presença cênica da Carol, na força do Reynaldo, na concentração da Ananza, na energia pulsante da Leilane, Gui e todo o elenco impecável.
Nenhuma peça fora do lugar. Nem no corpo. Nem na voz. E a paz...
Em um dos dias, em estado de graça, toquei as mãos da Preta enquanto ela cantava, sorria e passava pelo corredor...Tudo isso fica. E tudo isso eu levo. Os momentos ali, ao lado dos meus amigos Rodrigo, Thatiane e Cristiane.
Tenho certeza que Clara, assim como Bibi e todos os citados, recebeu essas homenagens.
Afinal, tudo é energia. Aprendemos isso com os orixás.
Como fã de Clara e Vanessa, agradeço!
Quem dera todas as biografias feitas no teatro, cinema, televisão e serviços de streaming, tivessem esses detalhes respeitosos. Quem dera.
SERVIÇO: Teatro Bravos até sexta, 21h; sábado às 17h e 21h; domingo às 16h e 20h. Entradas entre R$75 e R$300.
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