O Cabide Fala começará a publicar textos de ilustres convidados, e para estrear contamos com a participação da talentosa Solange Castro Neves, a novelista que foi co-autora de "Mulheres de Areia" nos concedeu um texto sobre os bastidores da trama que reestreia amanhã na Globo de forma bem solícita. Confiram abaixo!
Um fato interessante aconteceu com a personagem de Paulo Goulart, o Donato, que era padrasto de Glorinha e que tentava abusar da própria enteada. Era um vilão, que carregava no peito, duas correntes de contas brancas e azuis, e se dizia filho de Yemanjá. Os pais e mães de santo, na época, começaram a protestar, escrever cartas, irem à imprensa, furiosos, dizendo que os filhos de Yemanjá estavam revoltados com a personagem do vilão, que ele jamais seria filho da rainha das águas.
Na época não tinha conhecimentos espirituais para rebater as críticas e não havia tempo disponível para pesquisar, pois não existia internet. Para ganhar tempo, eu respondia as entrevistas dizendo que logo mais eles iriam se surpreender e entender a posição da personagem. Depois de ler uma crítica muito pesada, tive a ideia de que os colares de Donato arrebentariam do seu pescoço, caindo as contas pela areia, e as ondas do mar as levariam embora, e logo mais, um pouco afastada da praia, no meio do mar, apareceria uma imagem de Yemanjá, dizendo que ele não era seu filho. Os ânimos se acalmaram e o problema foi resolvido. Desde então, aprendi a importância de cada detalhe e do conhecimento profundo sobre o que se está escrevendo, para não ferir a suscetibilidade do público.
Acredito que Mulheres de Areia encantará a todos mais uma vez, não deixando de lembrar que naquela época não havia a tecnologia de hoje e que o trabalho em fazer as gêmeas Ruth e Raquel, foi praticamente artesanal, através da brilhante atuação do diretor Wolf Maya. Essa novela foi, para mim, um marco profissional, pois Ivani encontrava-se com problemas de saúde na família e eu assumi a novela sozinha. As únicas pessoas que sabiam desse fato eram Mario Lucio Vaz, Paulo Ubiratan que confiaram em meu trabalho. Esse fato fez com que, na A Viagem, eu fosse promovida a co-autora e Paulo Ubiratan me fez uma homenagem em forma de brincadeira, colocando meu nome em letras garrafais, pois me conhecia muito bem e sabia o quanto sou tímida.
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