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Análise | “Red - Crescer é uma fera" mostra que o crescimento não é fácil e fala sobre abraçar quem você é

Por Natália Rocha 

“As pessoas têm diversas facetas”. Essa frase dita pelo pai de Mei, a protagonista de “Red - Crescer é uma fera", tem um peso importante e nos leva a uma interessante reflexão sobre as nossas emoções.

O filme, lançado em março na plataforma de streaming Disney +, é mais uma produção da Pixar que aposta na diversidade para criar identificação com o público. Esse objetivo foi cumprido ao mostrar a história de Mei Lee, uma garota sino-canadense de 13 anos, que vive dividida entre: ser uma filha zelosa e honrar os pais, fazendo tudo o que a mãe deseja; ou viver como uma adolescente normal.

A mãe, Ming Lee, é uma mulher extremamente rigorosa com a criação da filha e que ainda a trata como se fosse uma criança. 

Mas quem é Mei Lee?


Mei/panda - Divulgação/Pixar

Mei, é uma garota que cresceu fazendo tudo o que sua mãe deseja. Quando chega na pré-adolescência, ela começa a sentir algumas mudanças no corpo e na personalidade. Ela adora a boyband ‘4 Town’ . Ao perceber que está começando a gostar de garotos, Mei não consegue ser 100% quem é por conta da superproteção da mãe. 

Até aí, esse parece ser mais um filme clichê sobre adolescência.

A novidade é que: as mudanças no corpo e o turbilhão de emoções e sentimentos de Mei, são representadas na tela com a transformação da garota em um panda vermelho, que sempre aparece quando suas emoções estão muito afloradas. 

Metáfora

A justificativa para que a protagonista assuma a forma de um panda está em crenças asiáticas e em outras questões culturais. A transformação acontece após um ritual ancestral feito  para tentar salvar Mei. Uma cerimônia que era para ser de defesa, se torna um grande problema para a família. 

O processo de transformação em um panda é uma metáfora que mostra o quanto as mulheres sofrem com as mudanças mentais e físicas que a puberdade provoca. 

Falando em puberdade, o filme é um dos primeiros da Pixar a mencionar a menstruação, um tema pouco explorado em filmes de família.

A animação tem muitas referências a elementos da cultura asiática. O templo da família Lee, me lembrou a fazenda de Mulan (1998). As expressões dos personagens foram inspiradas nos animes japoneses. A mãe, Ming Lee, e a avó, Wu Lee, me fizeram lembrar de Eleanor Sung-Young, interpretada por Michelle Yeoh no filme ‘Podres de Rico’ (2018).

O filme traz uma mensagem muito bonita de que é possível sim aceitar quem você é, entender quais são os seus sentimentos, mesmo que a jornada não seja fácil.

Cultura

Mei/Ming - Divulgação/Pixar

Na animação, a Pixar explora bem a cultura chinesa, mostrando uma família que preza muito pelas raízes, mas, sem abraçar os estereótipos ou gerar incômodo por preconceitos existentes, pelo contrário,  consegue mostrar tudo de modo respeitoso.

O filme se apoia nos clichês adolescentes, mostrando personagens com personalidades bem definidas pelos sentimentos.

A transformação de Mei em um panda vermelho não tem nenhuma relação com magia. Ela está diretamente ligada a um exotismo que tem relação com as tradições culturais. Isso mostra como algumas culturas consideradas mais rígidas criam altas expectativas sobre o papel da mulher na sociedade, impondo que ela tenha que ser “perfeita”. 

Isso tudo, no mundo moderno, acaba gerando emoções mais intensas e às vezes incontroláveis.

Momento “Mindfulness

Uma cena interessante e que se repetiu algumas vezes no filme foi a de Mei tentando se controlar no momento em que suas emoções estavam mais afloradas. Em forma de panda, ela simplesmente tentava respirar fundo e se acalmar.

Esses momentos podem ser considerados um “mindfulness”, que em português quer dizer atenção plena e que consiste em se concentrar no aqui e agora. As preocupações do passado, se transformam em uma consciência mais avançada do agora, algo que ajuda a ter mais controle sobre o ambiente, as sensações e emoções.

Contexto: 2002

O filme se passa em 2002 e isso fica bem claro nas referências que podem ser vistas ao longo do filme, por exemplo: um celular Joia com um design que faz referência a um Nokia, celular de flip;  uma choker que Mei usa no pescoço; um Tamagochi que Mei cuida o tempo todo e dá o nome de Robaire Júnior

O nome Robaire faz referência a um dos integrantes da boy band ‘4 Town’ que a protagonista do filme ama e que nos remete às famosas boy bands que faziam sucesso nos anos 2000 como: “Backstreet Boys”, “N Sync”, entre outras.

Garotas - Red: Crescer é Uma Fera (Foto: 2022 Disney/Pixar) 

As Emoções

A animação explora tudo que está em torno da família de Mei para falar sobre mudanças, para além do processo de passagem para a vida adulta. De um modo geral, o filme destaca as dificuldades de lidar com diversos tipos de emoções. 

Ming, a mãe de Mei, sofre muito com todas essas mudanças, tanto que sobrecarrega a filha com os seus sentimentos. O curioso é que ela passou pelo mesmo processo com a avó de Mei. Todas as mulheres da família escondem as suas vulnerabilidades, se mostrando pessoas fortes, mas isso acaba caindo por terra abaixo no momento em que Ming se transforma num panda ameaçador. 

“O panda é parte de mim”. Essa é uma das frases de Mei que mostra o quanto as emoções fazem parte de nós e que o caminho é aceitá-las e buscar maneiras e jeitos para aprender a controlá-las.

"Red - Crescer é uma fera" é um filme muito bonito e representativo, a começar pela equipe formada apenas por mulheres. Um grupo cem por cento feminino nos mostra que só mesmo mulheres seriam as pessoas mais indicadas para explorar a vivência de outras, os seus mecanismos de defesa e, principalmente, as regras que lhe são impostas desde o nascimento, para assim mostrar como lidar com todas essas questões.

***

Autora: Natália Rocha

Paulista, jornalista formada pela Belas Artes (Centro Universitário Belas Artes De São Paulo). É apaixonada por astrologia, teledramaturgia e literatura. Sua paixão pela cultura é tanta, que decidiu criar um blog e um perfil no Instagram para falar mais sobre o que gosta e compartilhar ideias.


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